15.01.2011

Rui Zink
A escolha do herdeiro

Um rei sábio tinha três filhos e não sabia qual escolher como herdeiro. Além disso, suspeitava que um deles o iria trair, só não sabia qual.

Então, um dia, o rei chamou os filhos a reunirem-se com ele numa sala nua, apenas com uma mesa sobre a qual jazia afiada adaga. Informou-os do que pensava: que um o iria trair, e que suspeitava que esse só aguardava a oportunidade certa.

Coincidência terrível, nesse mesmo instante a luz falha e o quarto fica imerso no mais completo breu. Ouve-se um grito de raiva – e o choque de metal contra metal. As luzes acendem-se, revelando um dos irmãos com a adaga em punho. Torta, porque as costas do rei estavam protegidas por uma firme malha de ferro.

Os guardas acorrem à sala, prontos para prenderem o traidor.

- Alto! – Clamou o rei. – Deixem-no em paz.

Os guardas, bem como os outros dois irmãos, não compreendem.

- Mas, Senhor…

- Será ele o meu herdeiro – cortou o rei, secamente.

- Pai, ele tentou matar-te!

- Mas ao menos mostrou iniciativa.

- Pai, nós amamos-te…

- E isso mesmo vos desqualifica para governar.

- Nós respeitamos-te…

- Silêncio! Nem mais uma palavra. Guardas, levem estes imbecis para a masmorra, e deixem-me beber uma taça de vinho com o vosso futuro rei.

..............................
Rui Zink,
escritor e professor universitário
é um colaborador frequente da novacultura,
desde o início, com o texto O Bicho da Escrita,
posteriormente publicado no livro
A Palavra Mágica e outros contos.
Na secção "literatrip" publicámos recentemente
a sua crónica  "Portugal BB+".
 O texto aqui publicado é um inédito,
gentilmente cedido pelo autor.
Todos os direitos reservados.

Tweet