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7.

 

Nós, os ateus, nós, os monoteístas

Nós, os que reduzimos a beleza

A pequenas tarefas, nós, os pobres

Adornados, os pobres confortáveis

Os que a si mesmos se vigarizavam

Olhando para cima, para as torres

Supondo que as podiam habitar

Glória das águias que nem águias tem

Sofremos, sim, de idêntica indigência

Da ruína da Grécia

 

 

Wir, die Atheisten, wir, die Monotheisten

Wir, die wir die Schönheit mindern

Zu kleinen Verrichtungen, wir, die armen

Herausgeputzten, die armen Bequemen,

Die sich selbst hinters Licht geführt haben

Mit dem Blick zu den Türmen hinauf

In der Annahme, in ihnen hauste

Die Glorie der Adler, die nicht einmal Adler hat

Tatsächlich leiden wir an der gleichen Bedürftigkeit

Wie die griechische Ruine

 

23.

 

A terceira miséria é esta, a de hoje.

A de quem já não ouve nem pergunta.

A de quem não recorda. E, ao contrário

Do orgulhoso Péricles, se torna

Num entre os mais, num entre os que se entregam,

Nos que vão misturar-se como um líquido

Num líquido maior, perdido a forma,

Desfeita em pó a estátua.

 

Das dritte Elend ist das von heute.

Dessen, der nicht mehr zuhört und nicht mehr fragt.

Dessen, der nicht erinnert. Und anders als

Der stolze Perikles zu

Einem unter vielen wird, unter jenen, die sich ergeben,

Sich vermischen wie eine Flüssigkeit

In größerer Flüssigkeit, die Form schon verloren,

Zu Staub vergangen die Statue.

 

Aus: Hélia Correia: A terceira miséria
Mit freundlicher Genehmigung der Autorin übersetzt von Michael Kegler

 

Hélia Correia
A Terceira Miséria
Relógio d'Água, 2012

Ausgezeichnet mit dem
Prémio Literário Casino da Póvoa 2013