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09.02.2010

discordar sempre!
um desacordo re-une a lusofonia

desacordo ortográficoConfesso que sou um grande amigo de antologias. Principalmente das aparentemente aleatórias. Das impossíveis ainda mais. E daquelas que ultrapassam fronteiras nem falar … Grande delícia de folhear, descobrir, ler, reler e voltar a folhear …

Principalmente quando o suporte de tal descoberta leva um título tão sugestivo: desacordo. Sim senhor, e também sim senhora, é isto que faz a cultura. O desacordo, discordar – a príncípio, e principalmente sob o domínio da uniformização tal como sugerida por um acordo já ultrapassado na hora de sua ratificação. (lembramos que, a respeito do »acordo« da língua alemã, Zé do Rock – escritor brasileiro radicado na Alemanha – sugeriu que deixassem-nos escrever livres de qualquer regra, de forma que assim todos escrevessem como quisessem, e, como tudo fosse permitido, ninguém mais escrevesse »errado«).

É mais ou menos isso que se demonstra com esta lindíssima antologia, lançada em Porto Alegre (pela Não-Editora, em Novembro 2009) e recentemente em Portugal pela Livro do Dia: Mostrar as individualidades de cada escrita, independente de acordos ou regras, a criatividade implícita à língua em geral e da portuguesa em particular, juntando nomes ilustres como Luandino Vieira, Luís Fernando Veríssimo, Pepetela, Manoel de Barros, a novos génios como Gonçalo M. Tavares, Patrícia Reis, Ondjaki, e pessoas que no respectivo ultramar talvez só puca gente conheça, como o escritor/ator moçambicano Rogério Manjate, o poeta/editor português Luís Filipe Cristóvão, ou Reginaldo Pujol Filho outro editor/poeta, Altair Martins, Cardoso, João Pedro Mésseder, Marcelino Freire, Maria Valéria Rezende, Nelson Saúte, Olinda Beja, Patrícia Portela, Rita Taborda Duarte, Xico Sá … Onde é que os organizadores encontraram tanta gente boa, tão diferente, de Portugal, do Brasil, da África. E como é que conseguiram convencê-los a participar de um projeto tão inviável, impossível, impensável?

Duvido que haja um só leitor que já conheçia todos os autores aí representados. Portanto: A descoberta está garantida. E o enriquecimento cultural. A delícia de ler – e nem só, pois duvido também que haja um leitor que realmente goste de todos. É este o outro efeito da diversidade – do des-acordo.

Resumindo: Atrás do título fortíssimo desta antologia, descobrimos textos fortíssimos de autores digníssimos (chega, já foram três superlativos!) a serem descobertos, ou re-descobertos, ou simplesmente re-lidos, uma, duas, mais vezes. E que haja mais desacordos como estes! E a ortografia e seus acordos – pouco interessam!

Obrigado por esta antologia quase impossível. Não é por acaso que atrás de tudo está uma editora que »não é uma editora«.

Michael Kegler


desacordo ortográficoReginaldo Pujol Filho (org.):
Desacordo Ortográfico
206 páginas
Não Editora, Porto Alegre 2009
Livro do Dia, Torres Vedras 2010
 

 

http://desacordo-ortografico.blogspot.com/