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:músicos portugueses | músico do mês

Luis de Freitas Branco
(12.10.1890-27.11.1955)

É não só o maior compositor português do Século XX, como também o professor daqueles músicos portugueses que mais se destacaram durante esse periodo: destes salientamos António Fragoso, Armando José Fernandes, Fernando Lopes-Graça e Joly Braga Santos.

Foi simultâneamente compositor, teórico, pedagogo, conferencista, divulgador e crítico musical, politicamente de esquerda e assumido opositor do »Estado Novo«, apesar da sua opção monárquica.
Oriundo duma das mais antigas familias aristocráticas do País, teve uma educação profundamente marcada pelo seu tio João de Freitas Branco, personalidade de grande erudição, dramaturgo, ensaísta e tradutor entre outros de Ibsen e Oscar Wilde.

Musicalmente precoce, compõe com 13 anos a canção »Aquela Moça«, que apesar da influência do seu mestre de composição, o Padre Tomás Borba, deixa já antever um brilhante futuro neste arte.
Até 1910, ano em que parte para Berlin com seu tio a fim de estudar composição com Humperdinck, compõe, entre outras obras, três poemas sinfónicos inspirados em escritores portugueses, cinco canções baseadas em sonetos de Baudelaire, e concorre com a 1ª. Sonata para violino e piano a um concurso promovido pela Sociedade de Música de Câmara, e à qual foi atribuida o 1°. prémio.
A mentalidade conservadora da »Hochschule« em Berlin, contudo, não estava em sintonia com a sua maneira de ser. Conforme ele próprio conta, depois da audição de »Pélléas et Mélisande« de Debussy houve uma mudança no seu rumo artístico, e compõe nesse ano o poema sinfónico »Paraísos artificiais« que, conforme Alexandre Delgado, … marca a introdução do modernismo na música orquestral portuguesa, na linha impressionista, tendo causado escândalo na sua estreia em Lisboa, em 1913.

Em 1914 Luis de Freitas Branco compõe o poema sinfónico »Vathek« baseado na novela do mesmo nome de William Beckford. Foi, com diz também Alexandre Delgado, ...uma das obras mais vanguardistas da sua época.

A partir de 1920 volta-se mais para o classicismo, sendo Beethoven o compositor que mais o fascinava. A 1ª. Sinfonia, composta em 1924, é exemplo da concepção temática beethoviana.

Luis de Freitas Branco legou-nos uma vastíssima obra musical. Poemas sinfónicos, 4 sinfonias, música coral sinfónica, música de câmara, música para voz e piano, para piano solo, orgão, música sacra, música de cena e para cinema, música coral, duas canções revolucionárias sobre poemas de Fernando Mouga e José Gomes Ferreira de conteúdo abertamente subversivos, assim como várias Suites sobre temas populares portugueses, etc. Salientamos que em 1951 iniciou os trabalhos numa ópera inspirada na luta de classes, intitulada A Voz da Terra, que não terminou devido a ter falecido.

Apesar da influência de músicos como Debussy e Moussorgski, como um crítico aludiu, foi um compositor português como ele próprio declarou numa entrevista:

Eu tenho, creia, o maior interesse em provar ao meu país, que sou, fundamentalmente, dentro da minha arte, um Português.

Da sua produção literária realçamos, de entre muitas outras, a »História Popular da Música« , »A personalidade de Beethoven«, »Tratado de Harmonia« e »Elementos de Ciências Musicais«.

 

Otto Solano*
Novembro 2011

 

 

BIBLIOGRAFIA
(excerto seleccionado)

BARREIROS, Nuno, DELGADO, Alexandre, Modernidade e Tradição – Ciclo Luís de Freitas Branco, (brochura do ciclo comemorativo do centenário do nascimento do compositor), Lisboa, RDP – Antena 2, 1990, 28 p.

DELGADO, Alexandre, TELLES, Ana, BETTENCOURT MENDES, Nuno, Luís de Freitas Branco, Lisboa, Editorial Caminho


DISCOGRAFIA

(excerto seleccionado)

Antero de Quental, 1.ª Sinfonia
Orquestra Filarmónica de Budapeste, András Kórodi (dir.), 1987, Portugalsom

Paraísos Artificiais, 3.ª Sinfonia, Solemnia Verba
Orquestra Filarmónica de Budapeste, Gyula Németh (dir.), 1990, Portugalsom

Paraísos Artificiais
Orquestra Sinfónica Nacional, Pedro de Freitas Branco (dir.), 1996, Portugalsom

Vathek, 2.ª Suite Alentejana
Orquestra Filarmónica de Budapeste, András Kórodi (dir.), 1988, Portugalsom

1.ª Suite Alentejana, 2.ª Sinfonia
Orquestra Sinfónica do Estado Húngaro [1.ª Suite], Orquestra Filarmónica de Budapeste, Gyula Németh (dir.), 1991, Portugalsom

1.ª Suite Alentejana, 1.ª Sinfonia
Russian Philarmonic Orchestra, Álvaro Cassuto (dir.), Marco Polo

4.ª Sinfonia
Orquestra Filarmónica de Budapeste, János Sandor (dir.), Portugalsom

4.ª Sinfonia
Orquestra Sinfónica Nacional, Pedro de Freitas Branco (dir.), Portugalsom

1.ª Sonata para Violino e Piano, 2.ª Sonata para Violino e Piano
Tibor Varga (vl.), Roberto Szidon (pn.), 1995, Portugalsom

Aquela Moça, Minuete [in Evocação]
Filomena Amaro (sop.), Gabriela Canavilhas (pn.), 1995, Movieplay MP Classics

Aquela Moça, Contrastes [in Canções de Amor]
Ileana Cotrubas (sop.), Adriano Jordão (pn.), 1995, edição exclusiva do Montepio Geral.

Trilogia «La mort», Ciclo Maeterlinckiano, Ciclo «A Ideia»
José Oliveira Lopes (bar.), Noel Lee (pn.), 1997, Portugalsom

Ciclo Maeterlinckiano, Duas Poesias de Lorenzo Stecchetti (in A Canção Portuguesa)
Carlos Guilherme (ten.), Armando Vidal (pn.), 1996, Numérica

Três Sonetos de Antero (in Depois de Tordesilhas)
Elsa Saque (sop.), Nuno Vieira de Almeida (pn.), 1994, Numérica

Mirages, Sonatina
Nella Maissa, 1994, JorSom

Sonatina
Maria Fernanda Wanderschneider, 1995, Numérica

Dez Prelúdios dedicados a Viana da Mota, Quatro Prelúdios dedicados a Isabel Manso, Prelúdio dedicado a António Arroio.
Tatiana Pavlova, 1995, Numérica

Dez Prelúdios dedicados a Viana da Mota, Quatro Prelúdios dedicados a Isabel Manso
António Rosado, 2006, Numérica

Dez Madrigais Camonianos para coro misto (+ Sonata para Violoncelo e Piano)
Elementos do Coro do Teatro Nacional de São Carlos, João Paulo Santos (dir.), 1991, EMI-Valentim de Carvalho

Madrigais Camonianos, excerto (in Música Coral Portuguesa do Século XX):Se me desta terra for e Verdes são as hortas (coro masculino); Falso cavaleiro ingrato e A dor que a minha alma sente (coro feminino); Pois meus olhos (coro misto).
Coro de Câmara de Lisboa, Teresita Gutierrez Marques (dir.), 1999, Numérica

 


* Otto Solano assina a nossa nova coluna
»Músicos Portugueses«.
Em Setembro escreveu sobre Emmanuel Nunes